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Sessão de Cinema – Registrando o medo através da objetiva da câmera

FILME: [REC] ([REC]) Espanha, 2007 – Terror/Suspense/Drama – 85 min. Resenha de Carlos Campos para o site “Claquete Virtual”, 2008.

Divulgação

Cinema é um meio audiovisual, sobretudo. Ou seja, apóia-se francamente no conjunto de imagens e sons para nutrir-se de significância. Cinematograficamente falando. Assim sendo, peças até simplistas – em termos de história base – podem se revestir de uma latejante virtuosidade quando narradas de maneira adequada. É o caso deste [REC], uma fita de terror (daquelas bem alternativas) que se apega profundamente na composição – ou decomposição – dos apetrechos sonoros e visuais (de baixo orçamento) para ganhar escopo. Seguindo a vertente do lapidar “A Bruxa de Blair” (1999), este longa-metragem espanhol (lançado em 2007) adere a câmera desnorteada de um protagonista “oculto”, prontamente registrando os acontecimentos para que possamos acompanhá-los em “primeira pessoa”.

Tudo começa durante a gravação de uma reportagem “sem sal” sobre o cotidiano noturno de uma equipe de bombeiros, seguidos até uma “chamada” – aparentemente – pacata. Daí pra frente, o filme se torna um pesadelo de borrões e gritos inaudíveis. Alguns podendo congelar a espinha. Nunca mostrando seu rosto (já que representa os olhos do público), o cameraman (interpretado por David Vert) prossegue com as gravações, independente do rompante de acontecimentos bizarros que se sucederão. Auxiliando sua repórter (vivida por Manuela Velasco) na tarefa de mostrar cada passo deste tormento, enquanto a moça (um elo entre os expectadores e os personagens que permeiam o conto) tenta elucidar as coisas. Que saíram do controle – absolutamente de repente.

Ao ponto deles ficarem presos no aterrorizante local da fatídica ocorrência, junto com os moradores e algumas autoridades. Dirigido pela dupla Jaume Balagueró e Paco Plaza (de “OT – The Movie”), a película mescla explicações sobrenaturais e certa ameaça palpável de acidente químico/biológico, ambos, servindo mais para climatizar as seqüencias do que para elucidá-las, uma vez que a falta de informações (somadas as nossas imaginações sugestionadas) colabora bastante para aumentar a tensão – nos dois lados da telona. Artimanha esta, primordial para cada susto se tornar horripilantemente natural e não esperado.

Dentro e fora da ficção, sucedendo-se de surpresa (apesar dos inúmeros clichês) e causando um medo genuinamente mortífero, amparado num ambiente cuidadosamente tecido para causar arrepios mesmo quando nada enxergamos (aqui, propositadamente). Só o fato de “algo” estar acontecendo (ou poder acontecer, independente de vermos) já é suficiente pro nosso coração sair através da boca, quase como se implorasse: “alguém, por favor, pode apertar o STOP?” – pelo menos, até recuperarmos o fôlego antes de voltarmos a perdê-lo nas vultosas cenas seguintes. Onde a tormenta continuará até o enigmático fim (porém, lógico se pensarmos que uma continuação já está sendo produzida).

Mesmo apelando pra uma estrutura pouco original, tal formato de lente amadora/nervosa adéqua-se perfeitamente ao intento deste [REC], que expõe em seu título o mote principal do projeto (que curiosamente logo ganhará um remake americanizado): filmar incansavelmente enquanto somos jogados, profundamente, numa viagem – sem volta – aos recantos mais apavorantes da alma humana, usando, para tanto, alguns toques puramente filmológicos. Essencialmente. Balagueró e Plaza estão de parabéns pelo excelente trabalho que realizaram (quase artesanal e acentuadamente criativo – destaque para as tomadas em off, explorando muito bem as deixas tipo “bastidores reais”).

Independentes das semelhanças óbvias deste produto com outras tantas filmografias estilisticamente parecidas – vide o co-irmão citado lá em cima, que empresta adendos valiosos e lhe serve inclusive de alerta, exemplificando como sua segunda parte, por exemplo, perderá prestígio se – tentar – seguir o padrão de “A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras” (2002). Vamos aguardar.

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